sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Na chuva


Somos quase todos água,
E andamos na chuva como se não.
Gosto de senti-la,
Batendo em minha pele
E deslizando para o chão.
Nestes momentos
Sinto-me parte da chuva.
A roupa molhada
Se mistura ao corpo,
Escorre e leva embora
Tudo aquilo que me distrai.
Então compreendo,
Que assim como da chuva
As vezes nos esquivamos.
Aquilo que atrai,
Às vezes também repele.
Percebo no vento o som dos suspiros,
De um coração
Que tem medo de se molhar.


domingo, 23 de dezembro de 2012

Escrevo no vento


Quando o vento assopra,
E a voz teu encanto chama.
No chacoalhar das cordas
Declama o amor que engana.

Até quando o sopro calhar,
E sua alma voar.
Vejo que o som ecoa
Daqui até o luar.

Quando vejo em minhas linhas,
Vazios tão cheios quanto o silencio.
Que preenchem o fardo,
De violão apaixonado.

Até que o vento apague
O fogo que a noite consome.
Escrevo mais linhas,
No silencio do meu nome.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Amiga (Pablo Neruda)



Amiga, no te mueras. 
Amiga, não morras.

Óyeme estas palabras que me salen ardiendo, 
Ouve estas palavras que me saem em chamas,
y que nadie diría si yo no las dijera. 
e que ninguém diria se eu não as dissesse.

Amiga, no te mueras. 
Amiga, não morras.

Yo soy el que te espera en la estrellada noche. 
Eu sou o que te espera na noite estrelada.
El que bajo el sangriento sol poniente te espera. 
O que sob o sangrento sol poente te espera.

Miro caer los frutos en la tierra sombría. 
Vejo cairem os frutos na terra sombria.
Miro bailar las gotas del rocío en las hierbas. 
Vejo dançarem as gotas de orvalho sobre a ervas.

En la noche al espeso perfume de las rosas, 
À noite sob o intenso perfume das rosas, 

cuando danza la ronda de las sombras inmensas. 
quando dança ao redor das imensas sombras.

Bajo el cielo del Sur, el que te espera cuando 
Sob o céu do Sul, o que te espera quando
el aire de la tarde como una boca besa. 
o ar da tarde beija como uma boca.

Amiga, no te mueras. 
Amiga, não morras.

Yo soy el que cortó las guirnaldas rebeldes 
Eu sou o que cortou as grinaldas rebeldes
para el lecho selvático fragante a sol y a selva. 
para o leito selvagem perfumado a sol e a selva.

El que trajo en los brazos jacintos amarillos. 
O que trouxe nos braços jacintos amarelos.
Y rosas desgarradas. Y amapolas sangrientas. 
E rosas despedaçadas. E papoulas sangrentas.

El que cruzó los brazos por esperarte, ahora. 
O que cruzou os braços para esperar-te, agora.
El que quebró sus arcos. El que dobló sus flechas. 
O que quebrou seus arcos. O que dobrou suas flechas.

Yo soy el que en los labios guarda sabor de uvas. 
Eu sou o que guarda nos lábios o sabor de uvas.
Racimos refregados. Mordeduras bermejas. 
Cachos amassados. Mordidas vermelhas.

El que te llama desde las llanuras brotadas. 
O que te chama desde as planícies floridas.
Yo soy el que en la hora del amor te desea. 
Eu sou o que te deseja na hora do amor.

El aire de la tarde cimbra las ramas altas. 
O ar da tarde arqueia os altos ramos.
Ebrio, mi corazón. bajo Dios, tambalea. 
Ébrio, meu coração, submisso a Deus, cambaleia.

El río desatado rompe a llorar y a veces 
O rio transbordante põe-se a chorar e às vezes
se adelgaza su voz y se hace pura y trémula. 
afina-se sua voz e se faz pura e trêmula.
Retumba, atardecida, la queja azul del agua. 
Ressoa, entardecida, a lamuria azul da água.

Amiga, no te mueras! 
Amiga, não morras!

Yo soy el que te espera en la estrellada noche, 
Eu sou o que te espera na noite estrelada,
sobre las playas áureas, sobre las rubias eras. 
sobre as praias douradas, sobre as loiras eras.

El que cortó jacintos para tu lecho, y rosas. 
O que cortou jacintos para teu leito, e rosas.
Tendido entre las hierbas yo soy el que te espera! 
Estendido sobre a relva eu sou o que te espera! 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O poeta e o espelho


Loucura e silêncio, sanidade e barulho.
Cervejas, palavras, cigarros no escuro.
Na fumaça vejo minhas ilusões dissiparem,
Até nos meus olhos lagrimas vazarem.

Percebo que de tudo, sou só amor.
E mesmo em minhas ilusões só calor.
Tento ser sempre feliz e pronto,
Pois este amor vem de mim e ponto.

Minha potencia vem das veias que pulsam,
Ou até do coração que bombeia os dutos.
Quando o poeta grita: AMOR!
E olha pra frente.

No espelho seu reflexo sente.
E porque ali seu desejo mente,
Respira e inala o veneno.
O que faz quem a si mesmo não sente?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Verdade


A verdade só existe quando a mente não para,
Quando vista no espelho a verdade se cala.
Pois muda a lua e a luz se espalha
Por entre a face e ilumina a alma.


Clareio a vida com minhas linhas tortas.
Mas com a mente reta, abro todas as portas.
Reflete a lua nos teus olhos escuros,
Mostrando a verdade por cima dos muros.


Que mesmo no frio da noite,
O inverno sente.
Quando a verdade muda,
E o coração não sente.


Com os livros eu falo
E converso, e vejo um lampejo.
Na mente me vem a realidade,
As vezes provisória, até outro desejo.